Atividade Física Durante a Gestação e Seus Mitos
Nesta postagem que vou abordar um assunto que deixa muitas pessoas bem preocupadas (principalmente as mamães de primeira viagem): atividade física durante a gestação. Sabemos que, durante a gravidez, a flexibilidade da mulher aumenta – principalmente a nível articular -, pois o corpo dela já vai se adaptando ao trabalho de parto. Além disso, há um aumento da produção de sangue, da resistência a insulina, há alterações de humor, a respiração fica mais curta, elas ficam com vontade de ir no banheiro a toda hora, entre outras particularidades. Todos estas mudanças devem ser consideradas na hora de fazer uma atividade física neste período.
Benefícios da Atividade Física Durante a Gestação
Os exercícios, neste período trazem uma série de benefícios:
- Aumenta o bem-estar: aproximadamente 80% das grávidas se sente bem com o exercício;
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- Reduz o risco de diabetes gestacional: assim como para todas as pessoas, o exercício auxilia no controle da glicemia;
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- Não aumenta o risco de hipertensão: apesar de não estar comprovado que o exercício reduz as chances da mulher desenvolver hipertensão, já se sabe que ele não aumenta este risco;
- Diminui a incontinência urinária: o organismo utiliza parte da água para os processos metabólicos e transpiração;
- Diminui o tempo do trabalho de parto: o fortalecimento da parede abdominal profunda facilita este processo;
- Aumenta a massa magra do bebê, fazendo ele nascer mais magro e diminuindo as chances dele se tornar um adulto obeso;
- Reduz o risco de nascimento prematuro.
A escolha dos exercícios
Este é um momento mais delicado, pois deve-se levar em consideração a atividade física que era realizada antes da gravidez para, então, montar um programa de treinamento adequado para a gestante (individualizado). Quem pratica exercício antes de engravidar tem menos risco de saúde durante a gestação.
Antes de mais nada, é importante saber que cada gestação é única! Ou seja, cada mulher vai ter suas vontades, preferências, desejos, incômodos, enfim, cada caso deve ser considerado isoladamente. De qualquer forma, existem diretrizes para a prescrição de exercício neste período. Ele deve ser realizado de 4 a 7 vezes na semana, com atividades de intensidade leve, moderada e/ou vigorosa. A percepção de esforço é a maneira mais aconselhada para medir a intensidade do exercício, ou seja, se a mulher se sentir bem, o exercício pode aumentar (gradualmente) de intensidade e até mesmo de duração.
O exercício vigoroso, para mulheres que têm condição, pode ser uma opção interessante. Já há estudos demonstrando que ele é benéfico, especialmente para combater a diabetes gestacional. Entretanto, nesta intensidade (assim como em intensidade moderada) o exercício não deve ultrapassar 45 minutos. Acima deste tempo há diminuição do glicogênio e esta diminuição, de maneira crônica, pode prejudicar o feto (pode, não necessariamente vai prejudicar sempre). Para as mulheres atletas, que continuam treinando, as sessões de treinamento mais longas devem ser divididas em 2 ou mais sessões, em diferentes períodos.
Mitos sobre o exercício na gravidez
É só engravidar que a mulher começa a ouvir conselhos de todos os tipos e, preocupada em não prejudicar o bebê, vai mudando todo seu comportamento. Toda esta super-proteção vai criando alguns mitos e aqui vou listar alguns que deveriam ser quebrados.
Mitos
1. Sangramento:
Sangrar uma vez não é um indicativo de que a atividade física deve ser proibida. Mas é um indicativo de que algo sério PODE ter acontecido. A gestante deve procurar um médico para descobrir a razão do sangramento;
2. Corrida é proibida!
Você sabia que o útero é amortecido? Por isso não há motivos para que a mulher pare de correr preocupada com “chacoalhar” o bebê
3. O exercício dificulta para engravidar:
Isso pode até acontecer em esportes de elite, quando o percentual de gordura da mulher é muito baixo, mas a razão é exatamente o percentual de gordura, e não a atividade física. O organismo vai evitar a gravidez quando perceber que não tem condições para isso, que é o caso de baixos índices de gordura. Em paralelo, mulheres com alto percentual de gordura também têm dificuldade de engravidar;
4. Natação deve ser evitada:
A posição horizontal e o empuxo (força da água que atua de baixo pra cima) não fazem mal nenhum para o feto. Talvez deva-se ficar atento com o nado peito, pois a flexibilidade de quadril, joelho e tornozelo está aumentada, o que pode levar a lesões;
5. Não se deve iniciar a fazer atividade física:
A justificativa é não trazer nada de diferente para o corpo. Porém, devemos levar em conta que, durante a gravidez, o corpo muda o tempo todo. A cada 2-3 semanas há diferenças no corpo e o exercício não será uma diferença prejudicial (como já vimos acima);
6. O primeiro trimestre é o mais perigoso:
De fato, é o período onde há o maior número de abortos espontâneos, mas não há comprovação científica de que ele está relacionado com o exercício;
7. Prejudica a amamentação:
Estudos têm indicado que, com exercício intenso, o leite tem gosto alterado. Porém, o bebê não está preocupado com isso. Ele quer se nutrir e o exercício não altera as características nutricionais do leite;
8. Não se deve fazer abdominal:
Muito pelo contrário! O abdominal deve ser feito. Algumas mulheres podem se sentir desconfortáveis com a posição clássica de abdominal (deitada de barrida pra cima). Para este caso se aconselha outros tipos de exercícios abdominais, como abdominais oblíquos, pranchas, etc.;
9. O exercício dificulta a nutrição do feto:
Em tom de brincadeira, pode-se dizer que o feto é um “ótimo parasita”, pois se o organismo tiver poucos nutrientes, eles vão para o feto. Além do mais, o exercício melhora a circulação da placenta e, com isso, facilita a nutrição do feto.
Exemplo
Como exemplo de mulheres grávidas que se exercitaram sem problemas, posso citar a maratonista americana que completou uma maratona e logo após deu a luz (matéria aqui) e uma ex-aluna minha, que foi para a academia de manhã, se despediu e disse “durante o próximo mês eu acho que não venho, pois vou entrar em trabalho de parto hoje às 18 horas”. Neste caso, o afastamento dela durou apenas 2 semanas.
Por fim, vale lembrarmos que a gravidez não é uma doença. A mulher deve continuar em condições de realizar suas atividades da mesma maneira, principalmente seu exercício. Converse com seu médico sobre a possibilidade de fazer exercício e, caso você não tenha nada de errado e ele não queria te liberar para fazer exercício, troque de médico.
Fonte: Marlos Domingues e Mônica Takito. Atividade física na gestação: como derrubar os mitos? Mesa redonda do VIII Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde. Gramado – RS, 2011.