Dor muscular induzida pelo exercício: causas e implicações
Após um longuíssimo período sem escrever (mas, felizmente, trabalhando e estudando bastante), estou de volta com uma postagem sobre a dor muscular proveniente de um esforço físico. Tenho certeza que quase todos já sentiram este tipo de dor. No mínimo aquele incômodo através do qual nos lembramos que o músculo está ali, estou certo que sim. A dor muscular que pretendo abordar é aJ dor tardia. Ou seja, aquela que aparece algumas horas depois (12-48) e que permanece durante algum tempo (24 horas até uma semana).
Contudo, também pretendo comentar (futuramente, no post sobre ácido láctico e lactato). E também sobre a dor muscular aguda, que é aquela sensação de queimação que ocorre durante um esforço muito intenso.
A dor tardia é um acontecimento comum após atividades físicas nas quais o indivíduo não está habituado. Pode acontecer, também, após atividades físicas de alta intensidade ou longa duração. Este tipo de dor está fortemente associado com algum dano que ocorreu no músculo e costuma ser uma relação linear. Ou seja, quanto maior o dano que o músculo sofreu, maior é a dor tardia. Cientificamente, este dano é chamado de dano muscular induzido pelo exercício (DMIE). Além da dor, apresenta outros sintomas: rigidez, inchaço e diminuição de força na contração muscular são alguns exemplos.
Mas o que causa este dano?
Como comentado logo acima, o dano costuma acontecer após atividades físicas nas quais o indivíduo não está habituado, ou de alta intensidade/duração. Agora, uma particularidade pode (e deve) ser observada: A ação muscular excêntrica produz dano muscular maior que as ações concêntrica e isométrica. Por exemplo, correr em uma descida de morro causa dano maior do que correr em uma subida, uma vez que, durante a subida, você faz força para aumentar de velocidade, pois a tendência é sempre desacelerar (por causa da gravidade). Enquanto na descida você faz força para frear o movimento, pois a gravidade está fazendo você aumentar de velocidade (e por isso o momento de maior exigência do seu músculo é quando ele está alongando).
Aprofundando um pouco mais…
Aprofundando um pouco mais, a contração excêntrica causa microlesões (possivelmente por rompimento dos filamentos de actina e miosina, ou de outras estruturas da célula) no tecido muscular. Mesmo sendo uma microlesão, o organismo procura se recuperar desta microlesão e, por isso, há um certo processo inflamatório no local (inchaço, rigidez, dor, temperatura elevada, etc.).
Entretanto, é exatamente por causa desta recuperação que nossa musculatura fica mais forte! Sem a microlesão, não há evolução. De uma maneira lúdica, podemos dizer que o organismo pensa: “Nossa, eu não sou capaz de aguentar esta carga, por isso me machuquei. Preciso me recuperar mais forte!”. E de fato isso acontece. Mas CUIDADO: uma dor maior NÃO está relacionada com uma evolução maior.
Após o primeiro estímulo forte (exercício que gerou o DMIE), o organismo cria uma espécie de “efeito protetor”, que vai fazer com que aquele estímulo não cause mais tanto dano, mas isso não significa que ele não está sofrendo uma adaptação. Ele está sim! O organismo apenas não é mais pego tão “despreparado”. Além do mais, se você buscar sempre um dano muscular maior, poderá, de fato, se lesionar seriamente, e precisar de muito tempo pra se recuperar (semanas ou até meses). De fato, é melhor se exercitar sem sentir a dor muscular tardia. Pois mesmo sem ela, haverá, sim, microlesão, recuperação e evolução, mas esta microlesão será em um nível tolerável para seu organismo e não trará problemas maiores posteriormente.
Mas eu exagerei e estou com dor muscular tardia. O que acontece agora?
Pois bem, o que acontece vai depender da magnitude do dano. Ou seja, do tamanho do “estrago”. Na presença de dano muscular, o indivíduo irá sentir, certamente, cansaço e mais sono. Isso pois, o seu organismo está preocupado com a recuperação da musculatura e, consequentemente, sacrificando um pouco das suas energias. Além do cansaço, poderá ter dificuldade em se movimentar, por causa da dor.
Durante o exercício aeróbio, o indivíduo terá mais dificuldade para superar a mesma dificuldade do que quando estava sem dor, mas, interessantemente, isso não significa que seu desempenho aeróbio será pior. Estudos mostram que pessoas com dano muscular têm a impressão de que o exercício é mais difícil, mas quando colocados para se exercitar na mesma intensidade, frequentemente eles conseguem, sim, realizar o exercício.
Durante o exercício anaeróbio (sprints, levantamento de pesos, saltos), já é sabido que há uma perda de força máxima imediatamente após o exercício e que esta tende a se recuperar progressivamente com o passar do tempo, levando até 7 dias para se recuperar totalmente. E, apesar de existirem poucos estudos relacionados a este tema, parece que o dano muscular prejudica não só a produção de força máxima, mas também a produção de força explosiva (constatado através da avaliação de saltos e de sprints no campo, no cicloergômetro e no remo-ergômetro).
Métodos para reduzir a dor muscular tardia e o DMIE
Já foram pesquisadas maneiras de atenuar os efeitos do DMIE que podem ser úteis para redução de dor muscular e para recuperar a máxima função muscular o mais rápido possível. Algumas estratégias que podem ser benéficas são: medicamentos antiinflamatórios não-esteróides; massagem (sendo dependente do tipo e do tempo de massagem) e; exercício, que parece ser o método mais efetivo, mas possui efeito analgético temporário. Ao mesmo tempo, alguns tratamentos não parecem ser eficazes, como crioterapia, alongamento, homeopatia, ultrassom e corrente elétrica.
Mais recentemente, alguns estudos têm observado que a suplementação imediatamente após o exercício pode ou não minimizar os efeitos do DMIE (dependendo do suplemento e dosagem). No entanto, a pequena quantidade de estudos torna estes resultados ainda inconclusivos. Bom, espero ter fornecido informações interessantes e pertinentes a quem for ler este artigo. O Dano muscular induzido pelo exercício foi tema da minha dissertação de mestrado. Portanto estou bem certo das informações aqui contidas. Pelo menos até a data de publicação deste post.
Foto destaque de Victor Freitas no Pexels