Atividade Física Pós Infarto: Devo Praticar?
Algum tempo atrás minha mãe me contou que um dos sócios da empresa onde ela trabalhava tentou ajuda-la a varrer o chão. Ela chegou me contando como se aquela situação fosse a mais absurda do mundo. No início me pareceu que era pela relação “patrão x empregada”. Porém depois eu entendi melhor quando ela me disse: “ele tem problema no coração e não pode fazer muito esforço”. Com este exemplo eis a pergunta: será mesmo que “quem tem problema do coração” não pode nem varrer o chão? ou ajudar a tirar as folhas do chão com a pá?
O Coração
O coração, que também é um músculo e é responsável por fazer circular o sangue pelo corpo.
Neste caso, quando o sangue circula pelo corpo, existe o transporte de oxigênio e nutrientes que são necessários para o funcionamento dos nossos órgãos e células. Sendo assim, a função do coração é extremamente importante e por isso é importante tê-lo saudável. Contudo, como nem tudo é perfeito, temos um pequeno problema quando ele para de funcionar ou não funciona tão bem. Ou seja, quando isso acontece, pode prejudicar a saúde do nosso corpo, causar mal estar e infelizmente levar até a morte.
Neste caso, não estou falando de um coração “partido pelo amor”. Estou falando de patologias, geralmente causadas por hipertensão, obesidade, colesterol elevado, tabagismo, stress cotidiano entre outros fatores de risco. Fatores esses que muitas vezes são consequência de um estilo de vida não saudável. Nem sempre conseguimos evitar algumas coisas, mas certamente conseguimos nos manter prevenidos.
Várias são as doenças do coração: angina, insuficiência cardíaca, arritmia, doença arterial periférica, cardiomiopatia e etc. Cada uma delas tem suas particularidades. Mesmo assim podem ser tratadas e controladas com medicamentos, além da mudança do estilo de vida para hábitos mais saudáveis. Algumas pessoas serão diagnosticados previamente e conseguirão “agir rápido” com essas mudanças. Já outras podem descobrir tais doenças apenas depois de algum acidente com o coração, como no caso de um infarto.
O Infarto
O infarto agudo do miocárdio é a diminuição ou a ausência da circulação de sangue no coração.
Geralmente é provocado pelo acúmulo de gordura no interior das artérias que levam sangue para o coração (chamadas de artérias coronárias). O infarto ocorre quando o músculo cardíaco (miocárdio) não recebe oxigênio e nutrientes e, por isso, para de funcionar.
Agora que a pessoa se tornou “infartada”, como proceder?
Muito tempo atrás, pessoas que se tornaram infartadas, tecnicamente não poderiam fazer nada de esforço. Isso acontecia pois as recomendações eram de total repouso. O que acaba indo de encontro com a fala da minha mãe, que pelo fato do chefe dela ter “problema no coração”, ele não poderia sequer ajuda-la a varrer o chão. Porém, como já sabemos, novos estudos surgem (ainda bem) e, assim como em tantas outras doenças, a atividade física e o exercício físico tem um papéis fundamentais na prevenção e no tratamento de doenças, inclusive as do coração.
Sendo assim, podemos pensar da seguinte maneira: Se uma pessoa treina para ter os músculos dos braços ou os das pernas mais fortes, porque também não tornar o coração mais forte já que ele também é um músculo? A reabilitação cardíaca, após um infarto, é imprescindível para evitar o surgimento de novas doenças do coração. Obviamente, a reabilitação vai envolver o acompanhamento de médicos, nutricionistas e nós, educadores físicos, por meio da rotina regular de exercícios físicos supervisionados.
Recomendações
Após um infarto, e com a consequente alta médica, a recomendação é de esforço físico leve. Claro que a intensidade de um exercício leve, vai depender muito de pessoa para pessoa. Por exemplo, uma pessoa sedentária talvez sinta que uma caminhada de 10min tenha intensidade alta. Agora, ao comparar uma pessoa que já está acostumada a realizar atividades físicas, talvez ela não sinta o mesmo.
Por isso, é importante estar atento ao esforço realizado, que pode ser estimado utilizando a escala de percepção subjetiva de esforço (escala de BORG) ou acompanhando a frequência cardíaca.
Ainda assim, acho importante colocar as zonas de frequência cardíaca ideais para reabilitação (que é de 40 a 50%, podendo evoluir a 60% ou até mais, dependendo de pessoa para pessoa) aqui neste post.
Pela escala de Borg de 10 pontos, que é mais fácil e rápido de ser mensurada, a intensidade determinada para o leve é de 1 a 4. Desta maneira, atividades leves podem ser consideradas as atividades da vida diária: varrer, ir fazer compras, dirigir, regar o jardim.
Após a fase de intensidade leve, e com o regular acompanhamento dos profissionais específicos, um infartado pode conduzir seu tratamento com intensidade moderada, que pela a escala de esforço subjetivo de borg, está entre o 5 e 6. Isso quer dizer que uma pessoa infartada já pode realizar atividades como: caminhadas, trotes, pedalar, nadar e até musculação.
Contudo, mesmo que as recomendações sejam de exercícios leves e moderados após um infarto, já existem estudos que permitem atividades mais intensas, porém, dependerá da evolução física e clinica da pessoa.
Por Fim
Bom, já sabemos que exercícios físicos, em geral, são benéficos para o corpo, mas é preciso estar sempre atento. É importante lembrar que não somente as pessoas mais velhas estão sofrendo com infartos. A cada ano aumenta a quantidade de infarto entre pessoas de 20 a 40 anos. Por isso, as doenças do coração, assim como qualquer outra, devem ser prevenidas. Não somente com a mudança de hábitos nocivos à saúde como também com a pratica regular de exercícios físicos.
E se você, que veio atrás de informação, já está dentro do grupo de infartados, lembre-se que em caso de dúvidas, é sempre importante contactar um médico especialista e seguir as orientações vindas dele. E que sim, após um incidente com o coração, você pode ajudar a varrer o chão sem problemas.
Foto: Imagem de Gerd Altmann por Pixabay