Condicionamento Físico: A sua importância em Diferentes Áreas
Há alguns dias, vi nos Stories do Instagram, uma amiga (que faz ballet), tentando fazer um espacate completo. Se você não sabe o que é, o espacate é aquela abertura das pernas em ângulo de 180° – muito comum na ginástica.
No caso dela, por praticar ballet há algum tempo, acredito que já tenha uma boa consciência corporal e sabia o que estava fazendo. Ainda assim, fui perguntar se ela realizava algum tipo de aquecimento antes de começar os movimentos para aquele treino de flexibilidade específico.
Ela não só me disse que sim, como me enviou um vídeo com os exercícios. Até ai tudo bem. Era um aquecimento tranquilo na sala de casa com polichinelos, aquecimentos e mobilidades articulares e alongamentos dinâmicos.
Talvez ela nem saiba exatamente o motivo de todos aqueles movimentos. Talvez nem o que eles trabalham, mas, ao meu ver, condiziam com a preparação para a atividade de flexibilidade.
Além dessa conversa, sobre o aquecimento pré alongamento (já que o treino de flexibilidade seria o treino principal), perguntei se ela fazia alguma atividade a mais com relação ao condicionamento físico (relacionado à resistência aeróbia).
Não diferente dos esportes, o ballet necessita de várias valências físicas: força, potência, flexibilidade, coordenação, equilíbrio, agilidade, resistência muscular e cardiovascular. Ou seja, é necessário um condicionamento físico relativamente completo e, possivelmente, estas valências sejam todas exigidas em uma aula. Mas, porque não trabalhar alguma delas isoladamente, pensando na melhora da performance?
Logicamente, vai depender do objetivo da pessoa. Se ela desejar apenas praticar aulas de ballet, a pessoa vai sentir que as aulas são suficientes. Porém, se estiver pensando em nível mais alto, ou profissional, talvez as aulas não sejam suficientes para desenvolver estas valências no nível necessário.
De Volta à Discussão
Voltando a discussão, o que me intrigou durante nossa conversa foi ela dizer: “não preciso de treino de cardio. A gente já faz treinos de saltos, e no geral, as aulas já me cansam bastante”. Cuidadosamente, como eu não poderia exigir dela alguns conceitos específicos da área, questionei intrigada: “então, já que tu cansas na aula, porque não fazer coisas a mais pra evitar esse cansaço?”
Quando ela disse que não precisava de treino de cardio, até pensei que era ela quem não precisava. Quem sabe pois não tinha como objetivo de “fazer coisas a mais” – a não ser o espacate. Contudo, o que mais me deixou intrigada foi a impressão de que ela achava que o ballet – e a arte como um todo – não precisaria “disso”.
Quando eu era criança, lá pelos meus 6 anos de idade, me lembro de fazer ballet. Me lembro da quantidade de exercícios de flexibilidade que nos passavam, e as incontáveis repetições de “plié”. Bom, e como eu era uma criança que gostava muito de correr, acabei optando por jogar bola e posteriormente o rugby.
O ballet, em sua forma clássica, é exatamente isso: disciplina extrema, o trabalho em cima da repetição, da técnica rumo a perfeição. Lembrando disso e dessa conversa, resolvi pesquisar um pouco sobre o ballet.
Em uma breve leitura, percebi que a grande maioria dos professores estão condicionados na repetição do que um dia lhes foi ensinado. Por sorte, existe uma leva de professores que passaram a pensar no desenvolvimento da técnica do ballet não só dentro do contexto citado acima, mas também por outra perspectiva.
Acredito que a transferência do conhecimento entre professor/treinador para o aluno/atleta vai depender bastante das experiências prévias que o mesmo teve com a modalidade que ele trabalha (sendo dança, artes marciais ou esporte).
Transferência de Conhecimento
Imagina eu, atleta de rugby por 10 anos, sem experiência nenhuma no ballet, tentando ministrar uma aula sobre. Aliás, tive que passar por essa experiência na faculdade e não foi das melhores.
Não vou dizer que não possam existir técnicos, treinadores ou professores que não tenham vivido a prática da modalidade, mas que ainda assim sejam bons no que fazem. Entretanto, ter vivenciado a modalidade é um grande caminho andado, já que a formação acadêmica nem sempre é o suficiente pra isso. Contudo, vale lembrar que a grande maioria, dos professores de dança, não tem esse conhecimento acadêmico específico. Um bom exemplo é uma amiga, que é professora de pole dance – boa professora inclusive – e é estudante de psicologia.
Ainda, deixando o tema sobre a formação acadêmica de lado. Pensando exclusivamente nessa característica de profissionais, e pensando no que disse a minha amiga, parece que existe a necessidade (ainda) das pessoas entenderem a importância da elaboração de um trabalho específico de condicionamento, ligado a dança no geral. Um bom condicionamento físico ajuda a alcançar – e manter – um bom ritmo de trabalho da técnica e da
performance por um período prolongado. E isso fica evidente quando a minha amiga diz “a aula já me cansa muito”. Parece que as aulas estão apenas no desenvolvimento da técnica e de algumas capacidades condicionantes: flexibilidade e potência.
Para Concluir
Portanto, gostaria de concluir que um professor de dança, e um coreógrafo, podem trabalhar conjuntamente com o educador físico. Por isso devemos valorizar a multidisciplinaridade. Pois através dela existe a possibilidade de potencializar as capacidades condicionantes exigidas pela dança como um todo e, com elas, a qualidade técnica e melhora da performance.
Por fim, reafirmo que o condicionamento físico pode estar em todas as áreas! Além do alcance esportivo e da dança, existem outras áreas e profissões que precisam de programas de condicionamento físico. Algumas dessas áreas, precisam de bom condicionamento, para garantir bom desempenho, mas que, infelizmente, nem sempre seguem um planejamento ideal.
Escrevi este texto como uma reflexão e também como introdução para o próximo tema, que falará exatamente sobre essas áreas.
Espero que tenham gostado dessa reflexão, um abraço virtual e até a próxima!
Condicionamento Físico: A sua importância em Diferentes Áreas – Parte I
Fonte Foto Capa: Escola de Dança Petite Danse