Deficiência Intelectual – Orientações e Cuidados
Na semana passada, tivemos dois dias importantes que podem ser destacados: O Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência (21 de setembro) e o Dia Nacional do Atleta Paralímpico (22 de setembro).
Datas essas que trazem reflexões e reforçam a discussão sobre a importância da retirada de obstáculos para as pessoas com deficiência, e a inserção deste grupo na nossa sociedade. E isso inclui manter esse grupo saudável através da atividade física, mesmo que com suas particularidades. Sendo assim, como esse blog propõe trazer informações diversas, não podíamos deixar de tratar deste assunto.
Nas semanas anteriores comentei sobre dois tipos de deficiências: a Visual e a Auditiva. Além dessas duas, existem ainda os indivíduos que possuem algum tipo de deficiência física, deficiência múltipla e intelectual.
A deficiência física é quando a pessoa apresenta alguma alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos no corpo. Neste caso, a deficiência física não é somente a amputação e ausência de um membro. Ela pode ser também: nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, encefalopatia crônica, lesão medular, mielomeningocele e outros. Ou seja, deficiência física é caracterizada pelo comprometimento do aparelho locomotor. Ou seja, compreendem o sistema osteoarticular o sistema muscular e o sistema nervoso.
Por outro lado, a deficiência múltipla é quando existe a associação de duas ou mais deficiências. Por exemplo uma criança que tem paralisia cerebral e comprometimento na visão, audição e a função cognitiva.
Por fim, além das duas deficiências citadas, ainda temos a deficiência intelectual. E é sobre ela que gostaríamos de falar neste post.
Deficiência Intelectual
A nossa função intelectual é avaliada através do Quociente de Inteligência (QI). Esta é uma medida padronizada obtida por meio de testes desenvolvidos para avaliar as capacidades cognitivas.
No caso da deficiência intelectual, ela é caracterizada pelo déficit de inteligência. Ou seja, quando o QI do indivíduo é inferior a 70 (valor que é considerado limite). E neste caso ela é classificada em 4 graus: leve (QI entre 50-69), moderada (QI entre 35-49), severa (QI entre 20-40 e profunda (QI abaixo de 20).
Importante destacar que, com o passar do tempo, algumas nomenclaturas sofreram alterações. Por isso, deve-se distinguir as pessoas com deficiência intelectual das que tenham algum tipo de doença mental. A doença mental configura a alteração da percepção individual e da realidade, o que nem sempre vai acontecer com deficientes intelectuais.
Por sua vez, a deficiência intelectual é considerada condição deficitária envolvendo habilidades intelectuais. Comportamento adaptativo conceitual, prático, social, participação comunitária, interações, papéis sociais, condições etiológicas, de saúde, aspectos contextuais, ambientais, culturais e as oportunidades de vida da pessoa. Podem aparecer precocemente na infância, geralmente antes da idade escolar (em alguns casos, pode surgir até os 18 anos) e prejudicam o desenvolvimento de aspectos pessoais, sociais, acadêmicos e/ou profissionais.
Causas
Entre as causas, elas podem ser consideradas não genéticas e genéticas:
As causas não genéticas da deficiência intelectual podem incluir complicações durante a gravidez (rubéola, uso de drogas, abuso de álcool, desnutrição materna), problemas ao nascimento (prematuridade, falta de oxigênio, traumatismos), deficiências específicas, como TDA, TDAH, autismo e ainda doenças e condições que afetam a saúde, como sarampo, meningite, desnutrição, exposição a chumbo e mercúrio, entre outras.
Já entre as causas genéticas a mais comum é a Síndrome de Down, mas ainda existem outras como Síndrome do X Frágil, Erros Inatos do Metabolismo, Hipotireoidismo congênito (HC), Síndrome de Rett.
Deficiência Intelectual e Atividade Física
A deficiência intelectual, como dito anteriormente, surge precocemente na infância e pode manifestar-se até os 18 anos de idade. Sendo assim, é importante frisar a importância da atividade física durante este período. Isso pois, as crianças com deficiência intelectual, além do atraso na aprendizagem, também apresentam habilidades motoras atrasadas para a sua idade cronológica. E quanto maior o grau da deficiência, maior é o atraso do desenvolvimento motor.
Sugere-se que a pessoa com deficiência intelectual deva receber a mesma variedade de prática, relacionada a saúde preventiva, que é oferecida às pessoas que não possuem deficiência intelectual.
Porém, não devemos esquecer que a pessoa com deficiência intelectual, assim como qualquer outra pessoa, possui sua individualidade biológica e, por isso, é importante estar atento ao montar o cronograma de atividades:
Desenvolvimento: o seu desenvolvimento no geral é parecido com o normal, porém em um ritmo mais lento (neste caso irá depender do grau da deficiência e a idade);
Alterações: Em muitos casos apresentam alterações da mecânica corporal como coluna vertebral, alterações musculares, articulares; como também no sistema respiratório, digestivos, rins, cardíacos e outros;
Desenvolvimento Psicomotor: este é mais lento, com a presença de alterações ou deficiências de controle motor, eficiência motora, percepção espaço-temporal, equilíbrio, coordenação de pequenos e grandes segmentos corporais, esquema corporal em geral, etc;
Características psicológicas: são pessoas que necessitam de supervisão e suporte por períodos prolongados, ou por toda vida;
Para as Atividades…
Para realizar as atividades adaptadas, devemos pensar que elas devem ser livremente ampliadas e flexíveis, de acordo com a realidade do ambiente e, principalmente, com o critério do educador, de forma que facilite a participação do aluno e possibilite sua efetiva inclusão na atividade e no grupo.
Esteja atento ao espaço: principalmente nos primeiros dias das atividades. Os espaços usados devem ser livres de obstáculos, sem muitas delimitações ou com delimitações flexíveis;
Com relação aos materiais: Utilizar poucos objetos inicialmente com tamanhos maiores, apresentando-os gradativamente aos alunos, para evitar dispersão e desinteresse;
As regras das atividades: De início as atividades devem ser curtas e com pequena exigência de concentração; além disso, não devem exigir tomadas de decisões nas primeiras atividades. E caso tenha, é necessário respeitar o tempo de resposta de cada aluno.
Pratique habilidades: Neste caso, deve ser desenvolvida pouco a pouco. Aumentando-se o grau de dificuldade gradativamente, de acordo com a capacidade de execução dos participantes. Devem ser oferecidas oportunidades de experimentação e vivências que requeiram habilidades bem simples. Isso evita que o aluno tenha sentimento de frustração e fracasso pela não realização da atividade ou do movimento apresentado.
Outros Cuidados
Tenha atenção com a pessoa portadora de Síndrome de Down. Pois esta população tem uma recuperação mais lenta do tônus vagal após o esforço, possuem um déficit na coordenação visual motora, lateralidade, controle motor visual, tempo de movimento, força e equilíbrio; Além da a resistência cardiovascular – muitas vezes associadas a malformações cardíacas – e infecções respiratórias.
Instabilidade AtlantoAxial (IAA) – A IAA é o aumento da distância entre duas vértebras da coluna cervical (C1 e C2). Elas estão localizadas na parte superior do pescoço, que devem manter entre si uma distância de 1 a 4 mm. A pessoa que tem Síndrome de Down que tenha sido diagnosticado com essa instabilidade não deve praticar atividades que produzam hiperflexão, flexão radical ou pressão direta sobre o pescoço ou parte superior da coluna.
Bom, essas são apenas algumas dicas, pois para muitas das atividades é necessário que o professor conheça e entenda as características do indivíduo como um todo. As aulas de educação física escolar, como em qualquer outro ambiente, devem ser programadas para que todos tenham a mesma possibilidade de realiza-la.
Por fim, independente da característica física ou intelectual de cada pessoa, o importante é conceder oportunidade de acesso para todos.
Foto Destaque: reconcavofm.com